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Mais um ano passou e voltamos a comemorar o 25 de abril.
Este ano, em Leça da Palmeira, o programa de comemorações engloba atividades desportivas e culturais. Ainda bem que tal acontece, pois há uns anos – e não muitos – as comemorações do 25 de abril, na nossa freguesia, não passavam de provas desportivas. Até parecia que a revolução do 25 de abril tinha sido um qualquer campeonato de um qualquer tipo de desporto.
Também fico feliz por este ano não se andar a perder tempo a discutir se foi uma revolução da esquerda ou da direita. Foi uma revolução feita pelos militares e com uma enorme adesão popular. Gente anónima que apoiou a mudança de regime sem se preocupar com «etiquetas» políticas e com um único propósito: LIBERDADE.
Passados estes 42 anos multiplicam-se as «histórias» e os «estudos» sobre a revolução.
Muitos dos homens que a fizeram ainda estão vivos e frequentemente surpreendem-nos com memórias dos acontecimentos na primeira pessoa. Sendo eu um homem ligado à História, confesso que as memórias são dos documentos históricos que mais me fascinam. Nunca se sabe ao certo o que vai sair no momento.
Relembro-me dum testemunho de um dos capitães que ficou encarregue de tomar as instalações da RTP e que não tinha experiência de campo por estar ligado à cozinha. Para agravar a situação tinha de tomar de assalto as instalações da RTP e não sabia o que era a régie (cabina ou local para controlo técnico de uma emissão de televisão ou rádio ou de um espetáculo). Um outro testemunho que me surpreendeu foi de um dos homens que acompanhou Salgueiro Maia e que revelou a preocupação deste pelo facto de o condutor do veículo militar onde seguia parar em todos os semáforos que se encontravam vermelhos. Claro que cumpria o código da estrada mas, numa altura em que a surpresa era fundamental, a rapidez era primordial.
Também os historiadores começam a dar ênfase à “revolução dos cravos”. Multiplicam-se os livros, as teses e até mesmo romances históricos sobre este período da nossa história.
No entanto uma palavra é comum a todos os depoimentos e a todas as obras históricas: LIBERDADE.
Este ano com as turmas do 6º ano de escolaridade lançamos o desafio de os alunos apresentarem um cartaz subordinado ao tema «Liberdade é…». Confesso que fiquei agradavelmente surpreendido. Não me estou a referir à qualidade dos trabalhos em termos estéticos, ou mesmo na questão do empenho dos alunos. O que mais me surpreendeu foi a capacidade que os alunos manifestaram ao tentar transmitir o significado da palavra Liberdade. Estou a falar de pré-adolescentes de 11 ou 12 anos que nunca viveram sem liberdade. No entanto, todos descaram um aspeto fundamental: «NÃO HÁ LIBERDADES INFINITAS, A NOSSA LIBERDADE TERMINA QUANDO COMEÇA A LIBERDADE DOS OUTROS.»
No mundo atual em que se matam pessoas em nome de ideologias, de religiões, de regimes políticos, sabe bem analisar trabalhos em que pré-adolescentes revelam algo de importante: NÃO HÁ LIBERDADE SEM HUMANIDADE.
Até à próxima semana.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
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