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Comemoraram-se ontem os 41 anos da revolução de abril, ou dos cravos, conforme preferirem. Mas, mais importante do que qualquer nome que lhe seja atribuída, é que seja lembrada como a «revolução da liberdade».
Na comunicação social não faltaram programas, entrevistas, painéis, reportagens, diretos, imagens de arquivo.
Muitas autarquias organizaram eventos, corridas, passeios, espetáculos circenses.
Na Assembleia, o Presidente da República discursou.
Mas tenho muitas dúvidas que a verdadeira mensagem de todas estas iniciativas tenha passado para o povo português.
Hoje, dia 26 de abril, não vejo os comentadores ou os jornalistas a analisarem o discurso do Presidente da República pela vertente da liberdade. Fala-se muito de consenso, do apelo do Presidente ao consenso, critica-se o discurso com os argumentos de que «eu faria diferente». Ou seja, faz-se campanha eleitoral para as presidenciais e para as legislativas e o verdadeiro significado de abril fica esquecido.
Mesmo as atividades desenvolvidas pelas autarquias, grande parte delas desportivas, duvido que tenham eficácia na transmissão dos valores de abril. A menos que queiramos transmitir a ideia de que o 25 de abril foi uma prova desportiva.
Nos manuais de História do 9º ano de escolaridade que irão sair este ano, seguindo as metas definidas pela tutela, a revolução de abril continua a ter algum destaque. O problema é que os professores não têm tempo para lecionar todo o programa e esta parte vem no final.
Por isso, não me admira que num desses manuais, num caderno de possíveis atividades de motivação para os alunos, numa hipotética entrevista, se coloque a questão a um estudante desse ano de escolaridade (9º ano, portanto, um jovem de cerca de 15 anos): «O que é para ti o 25 de abril?». A resposta: «para mim, o 25 de abril ou o 5 de outubro é tudo a mesma coisa. São dias feriados. Só isso».
Pode parecer exagero, mas não é. A verdade é que as gerações mais “velhas” não estão a conseguir passar a mensagem de abril. Os jovens têm a liberdade como algo adquirido e não como algo que se conquista todos os dias.
Mas ainda mais grave, muitos jovens têm uma noção completamente errada do que é a liberdade. Confundem liberdade com libertinagem, liberdade de opinião com insulto, liberdade de expressão com vandalismo.
Há um longo caminho que teremos de percorrer e é necessário repensar a forma como se transmitem ideais e valores.
Até à próxima semana.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
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