André Sousa, o mais jovem campeão nacional de sempre

André Sousa
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Conquistou o título com apenas 17 anos e cinco meses

André Sousa sagrou-se no último fim de semana campeão nacional de xadrez, tornando-se o mais jovem de sempre a consegui-lo, com 17 anos e cinco meses, batendo António Fernandes que, em 1980, foi campeão com 17 anos e 11 meses. O feito foi conseguido no Campeonato Nacional Absoluto, que decorreu na Douro Marina, em Vila Nova de Gaia.

O jovem prodígio fez história, mas pelo seu discurso quase parece ter-se tratado de um dia normal. “Foi uma boa sensação, de objetivo cumprido. E agora já estou a pensar nos próximos objetivos, tentar chegar a número um do ranking nacional, atualmente ocupo a sexta posição, e também chegar a grande mestre”, começa por referir ao DN o atleta do GD Dias Ferreira, um clube de Matosinhos.

Neste campeonato nacional absoluto estiveram presentes dez xadrezistas, que jogaram em sistema de poule a uma volta. O grande rival de André Sousa foi o mestre internacional Sérgio Rocha, com quem discutiu a vitória taco a taco, durante cinco longas horas e 104 lances. Os dois defrontaram-se na última ronda, com Sérgio Rocha a precisar de vencer, enquanto a André bastava o empate, resultado que viria a verificar-se.
Mas o jovem de Matosinhos destaca também “a importância da vitória diante do grande mestre António Fernandes, que se sagrou 15 vezes campeão nacional”. De resto, esta foi a primeira vez que André Sousa conseguiu derrotar este adversário, vencedor do Campeonato Nacional Absoluto no ano passado, mas que neste ano não foi além do terceiro lugar.

Apesar de ser um jogador muito mais experiente, António Fernandes não ficou muito incomodado com o facto de perder com um adolescente. “No xadrez não há essas coisas de ficar com vergonha de ser derrotado pelos mais novos. Aliás, ele já me conhecia e sabe que jogo bem… Foi bastante cordial e deu-me os parabéns”, conta.

André Sousa começou a jogar xadrez com 5 anos, ensinado pelo irmão mais velho, na altura com 8 e que queria ter alguém com quem praticar, pois o pai não tinha muito tempo. “Eu era muito pequeno e não sei se gostei logo de xadrez, mas lembro-me de que passei a adorar a partir do momento em que compreendi o jogo. Se rapidamente passei a ganhar ao meu irmão? Não, nem por isso, ainda demorou algum tempo para que isso acontecesse”, revela.

Aos 7 anos, participou na primeira prova oficial, o Nacional de Jovens, e mostrou que, de facto, tinha bastante jeito, pois sagrou-se vencedor nesta competição de sub-8. Essa foi a primeira de muitas vitórias e normalmente competindo com rivais mais velhos.

O seu grande ídolo é Jorge Ferreira, de 23 anos, atual líder do ranking nacional e que foi seu treinador durante dois anos. “Gosto muito da forma como joga e penso que o meu estilo acabou por ser muito influenciado pelo dele, pois praticámos muito tempo juntos”, admite.
Internacionalmente, admira muito o húngaro Richard Rapport. “Ele não pertence à elite mundial do xadrez, mas joga com aberturas diferentes, arriscando muito e bastantes vezes com bons resultados”, elogia. Levon Aronian, grande mestre internacional arménio e atualmente em quinto lugar do ranking mundial, é outro dos seus preferidos e assiste frequentemente aos seus jogos para aprender.

Tempo livre? Jogar xadrez!

No tempo livre, joga no computador e lê um pouco, mas o que André Sousa gosta essencialmente é de… jogar xadrez. O DN questionou-o se isso é considerado tempo livre e ele explica-nos “a diferença entre competir e jogar por divertimento, no computador contra outras pessoas, ou mesmo sozinho, no tabuleiro”. Questionado sobre se os seus amigos não acham estranho que um rapaz de 17 anos passe tanto tempo embrenhado num desporto tão solitário, responde-nos que não, garantindo que “eles ficam muito contentes e orgulhosos” com as suas vitórias. Quem também fica naturalmente muito feliz com os seus triunfos é a família. “O meu pai não assiste aos jogos porque fica muito nervoso, mas a minha mãe e os meus tios vão frequentemente ver-me. É verdade que não jogam xadrez e por isso a avaliação que aparece no computador ajuda-os a perceber o que está a acontecer”, diz.

Estudante de Engenharia Eletrónica na Faculdade de Engenharia do Porto, duvida que algum dos seus colegas saiba que tem um colega campeão nacional. “Entrei neste ano na faculdade e só consegui ir a dois dias de aulas, devido à participação no Campeonato Nacional Absoluto e noutro torneio. Acho que ninguém tem noção de quem eu sou… Mas quando souberem penso que isso não fará de mim mais popular”, antevê.
Muitas vezes ausente em torneios em Portugal e no estrangeiro, não receia que isso acabe por prejudicar os estudos. “Sei que a exigência não é a mesma, mas isso já acontecia no secundário e sempre consegui conciliar o xadrez com a escola. Penso que não vou continuar a ter problemas”, diz. No futuro, vê-se a trabalhar em robótica, mas tem noção da dificuldade em cumprir esse sonho, “pois só os melhores do curso irão conseguir aceder à área”.

Apesar do grande amor que tem pelo xadrez, André Sousa não se vê a viver em exclusivo da modalidade. “Será muito difícil, o António Fernandes é o único que consegue fazê-lo em Portugal. Terei sempre de conciliar o xadrez com outra atividade, vamos ver se será com robótica”, diz. Ainda assim, as vitórias nos torneios já lhe permitem ir juntando algum dinheiro. “Deixei de estar dependente dos meus pais, pois o que recebo já me permite suportar as despesas inerentes às participações nos torneios, a nível das viagens e tudo o resto”, adianta.

O xadrez é mesmo o único desporto que aprecia. “Na escola ainda houve uma fase em que gostei muito de badminton, mas nunca cheguei a entrar em competições”, confessa.

in DN


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