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Está na moda a peregrinação a Santiago de Compostela e, consequentemente, os Caminhos de Santiago.
Não é de hoje que os «Caminhos de Santiago» têm uma grande projeção. São talvez uma das mais antigas «tradições» do sentir católico. Mas a força da comunicação social, principalmente do Porto Canal, com as crónicas do Joel Cleto, deu-lhe um impulso muito maior, principalmente aqui na zona norte do país.
A peregrinação a Santiago Compostela remonta ao século IX após a (re)descoberta, no ano 813, do túmulo do Apóstolo Tiago. Após a sua morte, Tiago terá sido transportado por alguns dos seus discípulos até Padrón, visto ter sido na Hispânia (atual Península Ibérica) que este discípulo de Jesus efetuou a sua pregação. O seu túmulo ficou abandonado e «atirado para o esquecimento» até à sua descoberta por um eremita, Pelágio, no ano 813. Após o reconhecimento do túmulo pelo Papa Calisto, em 1119, começou a verdadeira «correria» de peregrinos.
Hoje em dia existem vários caminhos que ligam o Porto a Santiago de Compostela: o caminho central, o caminho da costa, o caminho por Braga e o caminho português romano.
Existem partes comuns a todos estes caminhos mas depois há zonas em que diferenciam. Mesmo no percurso de cada caminho existem algumas variações de acordo com o património das diferentes localidades/cidades.
Um erro que normalmente cometemos é associar os caminhos de Santiago a turismo. Pela minha experiência atrevo-me a afirmar que ainda agora, a grande maioria (mas mesmo grande) dos peregrinos faz o caminho em peregrinação e não em turismo. É certo que existe uma grande pressão em massificar/promover os caminhos de Santiago, já há empresas que promovem o caminho em etapas, uma por mês, ou de dois em dois meses, com hotéis e autocarros marcados, mas ainda o que mais se vê são os peregrinos individuais ou em pequenos grupos, com uma atitude diferente do turista.
O turista caracteriza-se pela máquina fotográfica (ou pelo telemóvel) e pela informalidade total. O peregrino é mais recatado e mais discreto nas suas atitudes. Não quer dizer que não aprecie os locais onde passa, que não repare nas lindíssimas paisagens ou nas lindíssimas obras construídas pelo homem. Mas o importante é para o peregrino é a reflexão pessoal, o sentir que consegue tudo com muito pouco a nível material.
Não é por acaso que os peregrinos, quando se cruzam, dizem «bom caminho» e não «bom passeio» ou «boa viagem».
Por isso, estranho que quando se fale dos caminhos de Santiago em Leça da Palmeira só se pense na marginal, nas piscinas, na Casa de Chá e de vez em quando no farol. Não entendo porque o caminho não passa na igreja de Leça. O desvio nem era muito grande. Temos uma igreja matriz lindíssima, com uma fachada maneirista e dois retábulos de talha dourada de uma beleza impar (o da capela mor e o da capela do Senhor dos Passos), bem como uma imagem de N.ª Senhora da Conceição que é uma obra-prima nacional.
Tenho a certeza que os verdadeiros peregrinos iriam adorar passar pela igreja de Leça.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
A revitalização do Caminho Portugues começou com a Associação Jacobeia de Viana do Castelo no ano 2004. Joel Cleto apenas nos ultimos anos divulgou.
Efectivamente se os peregrinos estão a ir pela Leça da Palmeira é mesmo por turismo e basta perceber o porquê de toda a polémica neste assunto com a intervenção das autarquias.