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Imóvel do século XVI que ficou com a pedra à vista desde 1967 estava muito degradado. Obra que custa cerca de 130 mil euros fica pronta no próximo mês e foi feita após consultas.
As obras que estão a decorrer na Capela do Corpo Santo, em Leça da Palmeira, Matosinhos, têm gerado acesas discussões. De um lado os que criticam, de forma anónima, tamanha intervenção, que vem “descaracterizar” a imagem da capela”. Do outro, os que defendem que o “mais importante é a preservação”. Entre cartas anónimas a repudiar o projeto e críticas no Facebook, o pároco local teve necessidade de explicar, numa missa, o que estava a ser feito.
O assunto resume-se a uma capela que há mais de 40 anos estava em pedra e agora, em virtude do estado de degradação avançado em que se encontra, houve necessidade de a rebocar.
“O mal dos que andam a criticar a obra é não serem conhecedores da origem da capela e nem saberem que, antigamente, ela já foi assim, como está a ficar agora”, referiu, ao JN, Fernando Ferreira, 67 anos. Sentado num banco, na companhia dos amigos Joaquim Fragateiro, 70 anos, e de José Mata, 71, os três homem falam que é “indiscutível salvar o património”.
“Na missa, o padre Francisco fez questão de explicar o que estava a ser feito e o porquê. Só não percebeu quem não quis”, referiu José Mata, sublinhando que “chegou a estar exposta na igreja matriz uma fotografia para comprovar como a capela já foi um dia rebocada”.
Tripulantes de nau pagaram promessa com construção
Foi mandada construir no ano de 1557 pelos tripulantes da nau Nossa Senhora da Conceição como pagamento de promessa feita quando o navio estava em perigo de naufragar, ao largo de Leixões. É dedicada a S. Pedro Gonçalves Telmo, santo que viveu na Galiza durante o século XIII, cuja devoção se desenvolveu entre marinheiros e pescadores da Galiza e de Portugal a partir de finais da Idade Média. Em 1623 já existiam registos da capela, e em 1744 e 1778 sobre os estatutos da confraria. Junto da capela ergueu-se, no século XVII, a “Casa do Facho”, destinada a vigiar a costa e ainda fiscalizar a aproximação de navios.
Indiferente às críticas, o vereador da Cultura, Fernando Rocha, salientou, ao JN, que «foi detetado que a pedra da capela estava muito degradada e daí a necessidade de intervir, rebocando-a toda”.
Técnicos ouvidos
A decisão surgiu só depois de terem sido consultados historiadores, técnicos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e até da comissão de infraestruturas da Diocese do Porto”. “O problema é que nos anos 60, a capela sofreu outras obras, pouco rigorosas, e como era moda da altura deixar a pedra à vista, o reboco foi todo removido das paredes exteriores”, comentou Fernando Rocha.
Outra questão é que “quando a capela foi feita, no século XVI, usou-se pedra de pior qualidade, uma vez que o edifício ia ser todo rebocado. Tendo ficado, há coisa de 40 anos, a pedra à vista, necessariamente a degradação foi aumentando”, explicou o vereador.
No fundo, as obras que custaram 130 mil euros e que se prevê que estejam concluídas no próximo mês, servirão para “devolver à capela do Corpo Santo a sua traça original”, concluiu.
in JN
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