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Parece-me da mais elementar justiça que, como leceiro e matosinhense, me congratule pela atribuição da Estrela Michelin ao chef Rui Paula, na Casa de Chá da Boa Nova.
Contudo, sinto sentimentos algo contraditórios relativamente a este assunto.
A atribuição deste galardão ao restaurante da Casa de Chá é, sem qualquer dúvida, uma mais-valia para o concelho e um reconhecimento da qualidade do serviço de restauração que temos em Matosinhos.
Não esqueçamos que Matosinhos foi, é e creio que continuará a ser no futuro, uma das salas de jantar do denominado «grande porto». A restauração é um dos trunfos que Matosinhos tem para atrair visitantes, a par do património artístico e das suas belezas naturais.
São inúmeras as pessoas por esse mundo fora «que seguem de perto» as sugestões deste guia. Não é um prémio atribuído de «ânimo leve», bem pelo contrário, sujeito a rigorosos e diversificados testes e de controlo permanente. Além disso, qualquer descuido pode levar à retirada do galardão.
Contudo, não se deve deixar «passar ao lado» o facto de este restaurante se situar num dos edifícios mais marcantes da arquitetura matosinhense. Sem menosprezar o trabalho desenvolvido pelo chef e por toda a sua equipa, como leceiro e matosinhense, quero destacar aqui o espaço lindíssimo em que o restaurante se integra.
E começa neste ponto a minha contradição de sentimentos.
Não posso elaborar qualquer comentário a respeito da qualidade dos pratos e do serviço prestado no restaurante, pois não tive a oportunidade. A verdade, nua e crua, é que não é para o bolso do comum dos leceiros.
Relativamente ao edifício, já tive a oportunidade de o visitar enquanto património artístico.
Mas sei que muitos leceiros e matosinhenses nunca tiveram a mesma oportunidade que eu. E todos deveriam ter a possibilidade de usufruir de uma visita guiada a esse edifício. Todos deveriam ter a possibilidade de saber o porquê da escadaria de acesso do parque de estacionamento ao edifício ter aquela disposição, da razão de ser da trave após a porta de acesso ter um espaço vazio entre si e o teto, entre muitos outros aspetos.
Saber que é uma obra do Siza Vieira, quem é o Siza Vieira e que vêm pessoas de todo o mundo para fotografar a Casa de Chá, não é o suficiente. Os leceiros e os matosinhenses deviam ter a possibilidade de conhecer, sentir, cheirar, a Casa de Chá da Boa Nova.
Há muito que se fala da criação de um roteiro do Siza Vieira em Leça da Palmeira. Já me pronunciei diversas vezes a seu favor. Era a altura de passar do projeto á realidade e de se descobrir uma maneira de não ser «para inglês ver», mas sim uma forma de abrir aos leceiros e aos matosinhenses o património que existe no seu concelho.
Até à próxima semana.
Joaquim Monteiro
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