Conserveira Pinhais. Novo dono é austríaco

Conserveira Pinhais, Matosinhos
Partilhe:

Translate


A distribuidora Glatz tomou o controlo da conserveira matosinhense de fabrico artesanal. Com o novo patrão, cessou a transmissão do terço vespertino na fábrica.

A três anos de festejar um século de vida, a conserveira Pinhais, de Matosinhos, abre um novo ciclo e conhece como patrão uma nova família. A conserveira transita da terceira geração da família fundadora para a poderosa distribuidora austríaca de produtos alimentares pertencente à família Glatz.

O conglomerado Glatz é um dos principais parceiros comerciais da conserveira, com uma ligação de oito décadas, através da Nuri, que se torna agora na principal marca do portefólio da Pinhais. A conserveira exporta 90% da produção e lida com um catálogo de 10 marcas.

Segundo o Expresso apurou, a Glatz controla a conserveira (74%) através da sociedade de direito português Protagonistmoon, contando, pelo menos formalmente, com sócios portugueses. Mas, nem o novo gerente, João Paulo Teófilo, ex-diretor financeiro dos Estaleiros de Peniche, nem António Pinhal, que permanece na empresa, estiveram disponíveis para prestar esclarecimentos ao Expresso.

A Glatz é o importador exclusivo da Nuri para a Áustria e mercados vizinhos, classificando a marca no seu site como “o expoente máximo das conservas portuguesas, incorporando peixe fresco, ingredientes de qualidade e embalada recorrendo a métodos tradicionais”.

Sardinhas Pinhais

A LITURGIA DO TERÇO ACABOU
A única mudança visível no edifício da Pinhais é a alusão a uma outra marca na loja da fábrica: em vez de Pinhais surge a referência à Nuri, uma palavra de origem árabe que significa brilhante.

Uma outra mudança é de caráter simbólico e litúrgico. A recitação do terço na base fabril em versão vespertina, na última hora antes do regresso do proletariado a casa e que se ouvia nas ruas adjacentes, cessou com a saída da família Pinhal.

“O novo patrão não quer cá essas orações”, reage uma das empregadas conserveiras, mais preocupada com o pagamento dos salários do que com exercícios religiosos.

IMPASSE NA MARCA, EXERCÍCIO DESASTROSO
A Pinhais atravessara no fim de 2016 um período de aperto de tesouraria e protestos laborais por causa de dois meses de salário em atraso, depois de um ano desastroso com as vendas em baixa e as perdas em alta.

A faturação reduziu-se de 2,5 milhões (2015) para um milhão de euros e o prejuízo subiu até 1,9 milhões de euros (207 mil em 2015). Na altura, industriais do sector comentavam que a Pinhais sofria com a excessiva dependência da Glatz e com o diferendo que se abrira em torno da titularidade da marca Nuri nos mercados externos.

O impasse explica a redução da faturação para metade e resolveu-se com a saída da família Pinhal da empresa.

A injeção em 2017 de meio milhão de euros num aumento de capital permitiu melhorar a situação financeira de uma sociedade que no fim de 2016 apresentava um capital próprio negativo (626 mil euros).

Na frente conserveira, a tradição ainda é o que era. A Pinhais é das raras unidades portuguesas que recorre a métodos artesanais na produção e embalamento de conservas de sardinha, cavala e carapau.

A forte incorporação manual no ciclo produtivo explica o elevado universo laboral – 110 assalariados (90% no feminino) para uma faturação tão reduzida, garantindo o caráter gourmet de um produto com acesso direto à primeira categoria mundial

A Pinhais e a vizinha Conservas Portugal Norte são as únicas unidades ativas que convivem com edifícios residenciais na paisagem urbana de Matosinhos, marcada por conserveiras abandonadas e em ruínas.

No universo de 15 empresas conserveiras em Portugal, três já eram de capital estrangeiro – a açoriana Cofaco, ligada ao investidor angolano Álvaro Sobrinho, a Gencoal, da capital italiano e a Idal, de Peniche, detida pelo líder mundial da indústria conserveira, o conglomerado tailandês Thai Union Group.

in Expresso


Partilhe:

Comentar