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O V. Setúbal teve Yekini, o V. Guimarães teve Ziad, o Marítimo teve Alex e em Leça da Palmeira havia Constantino. Nenhum deles jogou num grande em Portugal mas todos, à sua maneira, escreveram uma página de história no campeonato. Constantino Roberto Santos Jardim, agora com 46 anos, é adjunto de Abílio nos juniores do Boavista e continua a ser reconhecido pelo que fez dentro das quatro linhas. Teve uma aventura em Espanha (Levante) e na primeira divisão portuguesa estreou-se no Salgueiros e despediu-se no Campomaiorense, mas foi no Leça, onde se cruzou com Sérgio Conceição e Ricardo Carvalho, que ganhou o estatuto de referência. O idescobriu-o no Facebook, pediu-lhe um contacto e partiu rumo ao passado.
O Constantino é sempre associado ao Leça mas poucos se lembram que a estreia foi pelo Salgueiros, em 1986/87.
Foi um clube muito importante para mim, fiz toda a formação lá e depois estreei-me na primeira divisão. Na altura foi o Humberto Coelho o responsável pela minha subida aos seniores, quando ainda era júnior. Depois estreei-me com o Rodolfo Reis.
O primeiro jogo é com o Marítimo e uma época depois faz o primeiro golo contra a mesma equipa. Foi especial?
Sim, acho que sim. Já com o Leça também marcava golos ao Marítimo. Recordo-me perfeitamente desse. Estava 0-0 quando entrei e o Marítimo tinha uma equipa fantástica na altura. O guarda-redes dessa altura era o Ewerton.
É um golo que dá a vitória e marca 11 minutos depois de entrar…
Exacto, eu sei, eu sei. Lembro-me perfeitamente. Foi dos mais importantes.
No Salgueiros nunca foi uma referência. Mas no Leça…
Bom, no Salgueiros ainda marquei alguns golos. Depois decidiram que era melhor emprestarem-me e passei pelo Lamas, onde marquei 24 ou 25 golos, e depois vim para o Leça com o Frasco. Depois na I Divisão atinjo o auge. Fui Bota de Bronze… foram épocas memoráveis.
O Constantino marcou 46% dos golos do Leça na I Divisão. Sentia que era a figura máxima?
Não, o mérito era de toda a equipa e dos treinadores que preparavam a equipa para eu ter mais liberdade para jogar. Era uma equipa que jogava constantemente em contra-ataque, mesmo contra equipas do nosso campeonato. Tínhamos jogadores rápidos…
E como era o Constantino?
Era rápido e frio a finalizar. Ainda hoje me dizem na brincadeira que sou frio dentro da área. Era oportunista. É um dos grandes segredos do ponta-de-lança, a frieza.
É inato ou muito trabalhado?
Eu já desde miúdo que marcava golos. Comecei nas escolinhas do FC Porto e marquei muitos golos, e mesmo no Salgueiros marcava muitos na formação. É evidente que se treina e nos exercícios de finalização os pontas-de-lança não podem facilitar. É o que digo aos meus jogadores no Boavista. O avançado tem sempre de levar os exercícios a sério, como se se tratasse de um jogo.
Fez quatro jogos consecutivos contra o FC Porto a marcar. Não é para todos…
Exacto. Era uma grande equipa, tinha o Jardel, o Sérgio Conceição…
Jogou com o Sérgio Conceição no Leça em 1994/95. Como era ele?
Era um grande jogador. Foi o ano da subida. Ele fez parte dessa equipa e foi das melhores que o Leça teve. O feitio dele era irreverente, como sempre, mas um grande jogador e um grande amigo.
Olhando hoje para trás, qual foi o jogador com quem se entendeu melhor?
[Pausa] Olhe, no Leça tive o Serifo, em contra-ataque era um jogador impressionante. O Cristóvão, o Nando… era uma grande equipa. O Sérgio Conceição, o Isaías, o Fran… Seria injusto destacar só um. Não há nenhum jogador que seja alguma coisa sem os companheiros. Mesmo o Ronaldo e o Messi, que são os melhores jogadores do mundo, sem a ajuda dos companheiros não são nada.Por falar nisso, o Constantino é Constantino Roberto e no Leça jogava com o 7. Foi o primeiro CR7?
[Risos] Não, não… [Risos] Isso CR7 só há um… [Risos] Só o Ronaldo. Ele sai de casa para marcar golos, é complicado. Penso que é um fenómeno completo, acho que não há palavras para o descrever.Em 1997 apadrinhou a estreia do Ricardo Carvalho. Um avançado contra um central. Como eram os treinos?
Eram bons duelos. Já desde miúdo se via que ia ser um grande central, como foi e continua a ser. Foram sempre tranquilos. Foi sempre uma pessoa correcta, de trabalho.
Acha que se ajudaram a evoluir mutuamente em campo?
Ele era um jogador que tinha uma particularidade: saía a jogar com uma facilidade enorme. Era rápido, agressivo e bom colega.
O Constantino nunca teve oportunidade de dar o salto?
[Risos.] Poderá ter havido algumas propostas. Ouvi falar em muita coisa na altura mas nunca aconteceu.Como é que apareceu o Levante?
No ano anterior o Albacete já fizera uma proposta. Depois no último ano do Leça, vieram directamente o presidente e o vice-presidente para me contratarem. Vim a saber que o Levante me seguiu durante vários jogos.
Como foi a experiência em Espanha?
Foi fantástica e hoje em dia ainda mantenho amigos e há muitos adeptos que se recordam e interagem comigo nas redes sociais. Fico contente porque se calhar não fui um jogador tão determinante como no Leça. Na primeira época ainda subimos de divisão e marquei 13 ou 14 golos. E joguei com o Vicente, que na altura tinha 17 anos e acabou por ir para o Valencia e ser um dos grandes jogadores da selecção espanhola.
E o segundo ano?
Fui eu que quis sair e se calhar foi um dos grandes erros que cometi. Queriam que continuasse, que ficasse ligado às escolinhas, mas eu quis continuar a jogar.
O Campomaiorense foi a única opção?
Não. O Alverca, o Leça outra vez…
É importante para si ser tão reconhecido como um goleador?
Em Espanha sim, não pensava que seria tão reconhecido. Mesmo querendo sair, foi um clube que me marcou muito com o convívio. E com os adeptos do Leça também. E aqui no Boavista também se recordam. Apesar de não ter atingido o nível de muitos outros, tenho humildade para reconhecer isso. Se calhar merecia ter tido uma oportunidade na altura, que não tive. Mas isso já passou…
In Jornal i
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