Roteiro de Arte pela Rua do Loureiro
O movimento de desemparedamento da Rua do Loureiro, criado pelo Lionesa Group, deixou um roteiro à cidade, para apreciar até setembro
Depois do investimento em edifícios na histórica Rua do Loureiro, no Porto, emparedados transitoriamente por segurança sanitária e orientações municipais, o Lionesa Group começou a intervenção de requalificação do edificado da Rua do Loureiro, abrindo a rua à cidade através do movimento Arte pela Arte, em parceria com a Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP). Em causa esteve uma iniciativa que procurou devolver a identidade e sotaque a esta artéria, trazendo ao Loureiro cinco intervenções artísticas, por estudantes de Artes Plásticas. Estas intervenções estarão em exibição até setembro convidando a um roteiro por uma das zonas mais emblemáticas da Invicta.
Pelas escadas laterais da estação de São Bento entramos na rua Loureiro e logo nos deparamos com a primeira intervenção artística, “Transformação”. Da autoria de Rafael Alves, esta intervenção pretende pensar o modo como os espaços se vão alterando, num diálogo com os materiais e com a sua temporalidade, onde objetos anteriormente votados ao esquecimento são recuperados e novamente devolvidos à comunidade através da arte, como se pretende com a própria Rua do Loureiro.
Iniciando a subida pela rua vamos até ao encontro da segunda intervenção, “Quem conta um Ponto, acrescenta-lhe um Conto”, que pretende destacar a condição de facto e de mito, onde ambos colaboram na definição de atenção e mediatismo, apelando à reflexão. Centrada na formulação hipotética de um mito local, relacionado com a área da Rua do Loureiro e do anterior Mosteiro São Bento Avé Maria, atualmente Estação de São Bento, a obra interpreta a lenda da efígie de São Bento. Baseada em factos que, podem ou não, ter ocorrido numa rua tão famosa e tão cheia de segredos, como a Rua do Loureiro. Mas qual a verdade? Existirá mesmo uma efígie? Onde esteve guardada este tempo todo? Poderão os portuenses conhecê-la no novo bairro cultural da cidade?
Sob os tons verde e rosa observamos o edifício seguinte, que aloja a intervenção “Ilusional reality” apresentando um paradoxo entre o que estamos a ver e a dificuldade do nosso cérebro em processar a informação. Uma obra interativa que utiliza o material e a localização para captar a atenção daqueles que passam na rua. Duas cores, dispersas sobre a superfície ondulada das chapas, divididas pela curvatura das ondulações, configurando um forte efeito ótico. Visto numa direção, o rosa destaca-se, e na direção contrária, o verde sobrepõe-se. Quando olhado de frente, a complementaridade das duas cores, produz um efeito ótico bastante desconcertante dado que os nossos olhos não conseguem estabilizar a focagem, criando uma reação de desconforto e fascínio.
INTERVENÇÕES #ARTE PELA ARTE CONVIDAM AO PASSEIO POR UMA DAS ARTÉRIAS MAIS ANTIGAS DA INVICTA
Estas duas intervenções foram concebidas pelas estudantes Ana Cardoso, Ana Leça, Ana Margarida Silva, Antónia Spengler, Clara Ginoulhac, Filipa Moreno e Mariana Maia Rocha.
Continuamos a percorrer a multiculturalidade da rua em sentido ascendente para observarmos uma “Rosa da Índia”, uma flor que simboliza o encontro de várias culturas e que carrega a Índia no seu nome, apesar de ser originária do México. É encontrada em vários lugares diferentes do mundo, inclusive nas ruas da cidade do Porto, sendo a pintura deste mural na Rua Loureiro a materialização artística desse ponto de encontro multicultural. A sua autora é Mura.
No edifício um pouco mais acima encontramos “Significant Form”, da autoria de Inês Amorim que finaliza este roteiro. Aqui está representada a ideia de um possível eco do mundo, formalizando na rua um lugar privilegiado de observação e escuta. O “eco” da Rua do Loureiro, é uma metáfora de circulação de conhecimento, questionamento e inquietação onde a simbiose do industrial e da materialidade se torna a base de um diálogo constante com as pessoas e o espaço envolvente. Joga com a questão do desemparedamento, com a porta que vai abrir ou fechar conforme a perspetiva das pessoas que vão subindo ou descendo a rua.
O movimento Arte pela Arte, criado pelo Lionesa Group, proporcionou ao longo destes últimos meses uma verdadeira galeria de arte ao ar livre, totalmente aberta aos visitantes e habitantes locais da Rua do Loureiro. A iniciativa pretendeu desde logo transformar e “abrir” os edifícios emparedados às pessoas e à cidade, devolvendo-lhes a vida de outrora e tornando a rua um local de partilha de conhecimento e cultura.
Estas obras estarão em exibição até Setembro, altura em que as mesmas irão dar lugar às obras de requalificação dos edifícios.