Translate
Aproximam-se tempos decisivos para os leceiros e para Portugal. Vêm aí as legislativas e os leceiros, tal como os restantes portugueses, serão chamados a escolher o novo governo de Portugal. Numa das próximas semanas abordarei esta questão das eleições. Hoje quero falar sobre a atitude da comunicação social perante alguns acontecimentos que têm marcado o mundo em que vivemos.
Quando há alguns dias uma repórter norte-americana foi assassinada em direto, a comunicação social portuguesa optou por não editar as imagens. Tal deveu-se ao facto de as mesmas serem chocantes e não dignificarem o jornalismo, nem serem capazes de resolver a questão dos jornalistas que são abatidos em funções.
Quando morreu uma família de migrantes libaneses a caminho da Europa a posição não foi a mesma. Transmitiram imagens cruéis de uma criança de 3 anos afogada, do polícia tirar notas, da retirada do corpo. A justificação foi que a comunicação social tem uma função «educativa», tem a obrigação de denunciar situações imorais e de contribuir para um mundo melhor.
Até compreendo e aceitava a posição da comunicação social se tivesse a mesma compreensão para tudo o que se passa no mundo.
Não seria função da comunicação social alertar para a restrição da posse de armas nos Estados Unidos após o que se passou com aquela jornalista? A legitimidade não seria a mesma com que exigem aos governantes europeus que resolvam a crise de migrantes para a Europa?
Criticam-se os governantes europeus por não solucionarem a situação dos migrantes. Mas a solução está na Europa ou nos países de origem? Por que motivo a comunicação social não faz uma crítica aberta ao que se passa nesses países? Por que motivo continuam a transmitir imagens da destruição do património histórico por parte do autodenominado Estado Islâmico quando sabem que o que eles pretendem é publicidade?
A mesma comunicação social que daqui a uns anos irá transmitir a aquisição, por parte de um qualquer museu do mundo ocidental, de peças históricas vindas da Síria. Peças essas que serviram para financiar a guerra que se está a travar neste momento.
E a comunicação social sabe disso.
A mesma comunicação social que dá primazia de abertura dos telejornais à alteração da medida de coação relativamente a José Sócrates. Parece que é uma coisa extraordinária, quando no país, se fazem às dezenas. Seria interessante que a comunicação social informasse a população em geral que uma medida de coação não é uma condenação, que o arguido, apenas por ser arguido, pode ser sujeito a uma medida de coação e que pode vir a ser absolvido. A medida de coação é apenas uma estratégia para se apurar a verdade e é aplicada tendo em consideração os factos naquele preciso momento.
A comunicação social está a distorcer a realidade e sabe disso, sabe que não está a dizer a verdade toda.
A isso chamo hipocrisia.
Até à próxima semana.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
Sugiro a leitura do texto de Clara Ferreira Alves, no jornal Expresso. O que se passa aqui é muito mais que hipocrisia…