Leça FC mergulha nos distritais

Camisola Leça Futebol Clube
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Clube desce aos distritais, após decisão de arbitragem que suscita dúvidas: um golo anulado num livre direto.

Conhecida pela Casa de Chá da Boa-Nova ou pela piscina das Marés, Leça da Palmeira é tida como a “terra mais bonita de Portugal”, como os seus habitantes gostam de o dizer enquanto enchem o peito de orgulho para proferir uma das frases icónicas que se associam à terra. Mas Leça é também casa de um clube que conta com páginas de história no livro das memórias do futebol português.

Fundado no dia 21 de março de 1912, o Leça Futebol Clube guarda para sempre como o grande período áureo a segunda metade da década de 1990, altura em que, por Leça e pelo Leça, passaram grandes nomes do desporto-rei como Sérgio Conceição ou Ricardo Carvalho, entre outros.

Aí, o Leça mostrou créditos, como nunca antes e nunca depois, pelo menos até agora, no futebol nacional, tendo vencido a então Liga de Honra, em 1995, que lhe deu acesso I Liga, onde se manteve até 1998 e foi convivendo na grande montra do futebol português.

De então para cá, a vida do Leça tem sido feita de altos e baixos, mais baixos do que altos, diga-se, de sonhos adiados e outros por sonhar. Mas sempre tendo o amor à bola como grande farol em terra de gente que enfrenta as águas do mar e que acredita que depois da tempestade virá a bonança. Afinal, esse é um dos ensinamentos do mar, que abraça Leça.

Um mergulho na distrital com um livre a dar que falar

Se a história do Leça estivesse a ser passada numa sala de cinema, bem que se poderia fazer um ‘fast forward’ e chegar à temporada mais recente, que foi de pesadelo para o Leça na Série B do Campeonato de Portugal e é aquela que tem dado que falar.

O Leça mergulhou nos campeonatos distritais e vai disputar o Campeonato de Elite da Associação de Futebol do Porto (AF Porto) na próxima época, logo numa temporada de tudo ou nada, já que em breve irá surgir a chamada SuperElite. E aí só terá lugar a ‘nata da nata’ do futebol distrital. Embora o Leça queira mais que isso, queira a ‘nata nacional’ e queira voltar ao lugar de onde agora se despede.

O Leça está, por isso, numa encruzilhada e precisará não apenas da crença, da alma e do amor dos seus adeptos como de montar uma equipa capaz para enfrentar um dos campeonatos mais intensos a nível distrital de Portugal, como é a Elite da AF Porto.

Mas o clube leceiro chega à Elite com a sensação de algo poderia ter sido diferente e há um mar que liga a indignação do Leça à Madeira, mais concretamente à Camacha.

Estádio do Leça FC
Estádio do Leça

Leça no ‘lago dos tubarões’

A história é simples de ser contada. A Série B do Campeonato de Portugal foi uma espécie de ‘lago dos tubarões’ com históricos do futebol como o Salgueiros, o Beira-Mar e o Leça. Tinha também equipas de créditos firmados como o Lusitânia de Lourosa e o Marítimo B.

Durante grande parte do Campeonato de Portugal, o Leça lutou com o FC Alpendorada, a Camacha e o Machico pela salvação, visto que desciam seis de 14 equipas. E entre essas seis, ficou sempre a ideia de que a Guarda Desportiva, o Resende e o Castro Daire precisavam de um milgre porque tiveram a ‘corda’ ao pescoço ao longo da maratona de 26 jornadas. Restava saber quem eram as outras três.

FC Alpendorada, Leça e os madeirenses Camacha e Machico lutaram pela salvação. Só havia vaga para um e durante grande parte do campeonato o FC Alpendorada, campeão da Elite da AF Porto na temporada passada, até ia ocupando o lugar de salvação, pese embora tenha sido uma época de profundas mudanças para o clube de Marco de Canaveses que viu sair o treinador Renato Coimbra para o Amarante, da Série A.

Só que o FC Alpendorada ‘patinou’ nas últimas jornadas e o Leça via renascida a esperança da salvação, até porque o Leça tinha um jogo em atraso com o Castro Daire (adiado na primeira volta devido ao mau tempo na zona de Viseu).

Quando o FC Alpendorada perdeu com o Rebordosa, nas últimas jornadas, o Leça passou a depender só de si para ficar no Campeonato de Portugal.

Com o Machico também praticamente condenado, o que FC Alpendorada e Leça não imaginavam era que a Camacha ainda fosse buscar aquilo pelo qual também sonhava. Assim, a Camacha passou a depender só de si na derradeira jornada. Mas tinha pela frente um duelo contra um rival, o Marítimo B, que já tinha vencido o Leça e, com isso, retirado essa vantagem classificativa ao Leça antes da última jornada.

Apesar das vicissitudes de um Campeonato exigente, o Leça chegou à última jornada com possibilidades de se salvar. As contas eram fáceis de fazer. O Leça, a jogar em casa, tinha de vencer o já despromovido Castro Daire. Mas precisava que a Camacha não fosse vencedora do duelo na pérola do Atlântico com o Marítimo B, já tranquilo na classificação.

O FC Alpendorada, a jogar no Estádio Municipal de Alpendorada, recebia o Lourosa, do pelotão da frente e que precisava da vitória para ir à fase de apuramento de subida. Mas para o Leça, em caso de vitória, o que o FC Alpendorada – que 24 horas antes do último jogo ficou sem equipa técnica – fizesse já nada interessava nas contas leceiras.

Logo, as contas para o Leça eram simples. Uma vitória leceira conjugada com um empate ou derrota da Camacha atirava os madeirenses para os distritais, ficava o Leça no Campeonato de Portugal.

Marítimo B reduzido desde a primeira parte e com golo anulado no fim da segunda

Só que da Madeira não chegaram notícias de agrado para a família verde e branca. O Leça cumpriu o seu papel e derrotou o Castro Daire. E o Marítimo B ainda tentou travar a Camacha num jogo recheado de casos polémicos, como se pode constatar num resumo disponibilizado pela RTP Madeira.

Num jogo marcado pela incerteza, a Camacha, que jogou o final da primeira parte e toda a segunda metade com mais uma unidade, venceu por 3-2. José Bica foi expulso aos 39 minutos.

O Marítimo B até saiu na frente aos cinco minutos e a Camacha empataria aos 26 por Huguinho. Henrique Silva, aos 50, colocou a Camacha na liderança do marcador, mas durou pouco a festa, já que o Marítimo B voltaria a marcar, aos 59, por Rúben Marques, fazendo aí o 2-2.

António Belo, aos 63, colocou a Camacha na frente novamente com um remate acrobático, mas o Marítimo B, mesmo com dez, nunca deixou de procurar o golo. E até marcou, de livre, nos descontos da segunda parte, gelando a plateia da Camacha. Mas o árbitro Hélder Nunes anulou o golo, aquele que seria o 3-3 e que atiraria a Camacha para os distritais perante os resultados que acabariam por se verificar.

Em caso de empate no final da ronda 26, a Camacha ficaria com 32 pontos e o Leça com 33. A turma verde e branca ficaria no Campeonato de Portugal.

Veja a reportagem da RTP Madeira com o vídeo do resumo do jogo. O golo anulado ao Marítimo B pode ser visto depois das 02:20. As imagens não permitem esclarecer a razão da decisão de arbitragem.

Mas para história fica a vitória da Camacha, por 3-2, clube que terminou a Série B do Campeonato de Portugal com 34 pontos, no primeiro lugar das equipas em zona de salvação.

O Leça, com 33, foi o primeiro dos últimos, ocupando aquela ‘zona costeira’ que divide a terra da zona de água.

Do sonho da Liga 3 à Elite da AF Porto

Depois de na última época ter andado no pelotão da frente do Campeonato de Portugal, tendo até lutado pela promoção à Liga 3 (terceiro escalão do futebol) e feito uma campanha de luxo na Taça de Portugal, apenas travada pelo Sporting, a equipa do Leça vai agora tentar renascer na Elite da AF Porto.

“O Leça Futebol Clube é um histórico do futebol português, com 111 anos e quase uma centena de participações nos campeonatos nacionais. É aqui que entendemos ser o nosso lugar e, por isso, tudo faremos para regressar o mais breve possível”, prometem os leceiros em mensagem já partilhada nas redes sociais.

Pedro Barroso campeão com Salgueiros, Beira-Mar até à última no sonho

Em relação aos outros dois históricos que faziam parte deste campeonato, o Salgueiros, orientado por Pedro Barroso, vai lutar pela subida à Liga 3, tendo sido o campeão da primeira fase, enquanto que o Beira-Mar terminou no quarto lugar.

A grande surpresa desta Série B acabou por ser o Rebordosa. A equipa de Paredes viu o FC Alpendorada ser campeão da Elite da AF Porto na época passada.

Os ‘pedreiros’ subiram mas acabariam por levar o ‘rival’ Rebordosa consigo, já que a formação do Rebordosa acabaria por ser repescada.

O conto de fadas de Arlindo Gomes e o Rebordosa

A turma orientada por Arlindo Gomes viveu um verdadeiro conto de fadas tendo lutado até à última pela subida, fazendo lembrar outras estórias de clubes ou seleções, que surpreendem tudo e todos numa competição como o Leicester na Premier League, ou a Dinamarca no Campeonato da Europa de 1992.

O Rebordosa começou de ‘fininho’ e sem que ninguém desse conta andou sempre nos lugares da frente, tendo lutado até à última pela ida à fase de apuramento para a Liga 3.

in A Bancada


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