Leça FC: O Clubismo esfumou-se

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joaquim_monteiroNo passado domingo desloquei-me ao estádio do Leça Futebol Clube para assistir a um derby concelhio a contar para a Divisão de Élite – Pró-nacional dos Campeonatos Distritais da Associação de Futebol do Porto, mais concretamente o Leça  – Padroense. Sendo um jogo entre duas equipas do concelho de Matosinhos era expectável que tivesse uma assistência razoável. No entanto, não estiveram nem perto de 300 pessoas a assistir a este jogo.

Perante tal facto como é possível os clubes sobreviverem?

O Leça Futebol Clube, tal como muitos dos clubes nacionais vive uma época difícil. Mesmo conseguindo constituir uma equipa barata, abdicando um pouco da capacidade competitiva, a verdade é que com assistências deste nível não se consegue sobreviver. As despesas do jogo, nomeadamente com o policiamento e os bombeiros, com toda a certeza que ultrapassam largamente as receitas de bilheteira.

E no caso do Leça Futebol Clube nem se pode atirar as culpas para o elevado preço dos bilhetes.

A verdade é que os clubes portugueses viveram durante muitos anos agarrados ao chamado clubismo. Cada freguesia fazia ponto de honra em ter o seu próprio clube e graças a um certo bairrismo das populações, aliado a um apoio mais ou menos relevante das empresas e das autarquias, lá iam conseguindo sobreviver.

Mas os tempos mudaram e as populações desenraizaram-se. Muitas das pessoas vivem em freguesias que pouco ou nada lhe dizem, onde apenas moram porque foi onde conseguiram arranjar casa. Muitas dessas pessoas passam mesmo o dia a trabalhar em concelhos vizinhos e apenas dormem nas suas casas.

Também o tecido empresarial e comercial vive tempos difíceis, sendo inúmeras as pequenas e médias empresas que vivem com a chamada «corda na garganta». Daí a dificuldade dos clubes em arranjar patrocínios.

Relativamente às autarquias, a realidade é aquela que todos conhecemos e cada vez mais é difícil aos órgãos autárquicos investir e apoiar os clubes das terras.

Por tudo isto e não só, o clubismo esfumou-se.

O número de associados do Leça é assustadoramente baixo. Eu, com cerca de 30 anos de associado sou o número 358, mas a minha filha, que é sócia há 18 anos é o número 543 e o meu filho mais novo, que tem 13 anos, é o 647. Ou seja, entre mim e o meu filho há apenas 300 sócios de diferença e mais de 15 anos de associado a separar-nos. E se olhar apenas para os meus filhos, que têm 4 anos e meio de diferença entre eles, o número de associados a separa-los é de apenas 104. Ou seja, em 4 anos e meio apenas 100 pessoas se tornaram sócias do Leça.

Mas esta realidade não é só do Leça. Na primeira liga é constrangedor assistir a jogos onde estão nas bancadas poucas dezenas de espectadores.

E relativamente ao número de associados os clubes da primeira liga têm o mesmo problema. Ainda esta semana, durante a campanha para as eleições do Belenenses, o candidato que acabou por vencer as eleições, Patrick Morais de Carvalho, alertava para o facto de o Belenenses ter apenas 2500 (dois mil e quinhentos) sócios pagantes. E curiosamente, se fizermos uma busca do número de associados dos clubes portugueses, o Belenenses aparece nos primeiros lugares, com cerca de 18.200 associados.

É tempo dos clubes se reinventarem e se adaptar aos novos tempos.

Até à próxima semana.

Saudações leceiras

Joaquim Monteiro


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