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Em variadas ocasiões fui confrontado com a questão da denominação dos habitantes de Leça da Palmeira: leceiro ou lecense?
Invariavelmente respondia que era leceiro, até porque a alternativa, lecense, não me soa bem. Mas de imediato me questionavam se leceiro não era apenas para os adeptos do Leça Futebol Clube e lecense para os habitantes de Leça da Palmeira. Até me bombardeavam com exemplos, como o do Porto, em que os habitantes são portuenses e os adeptos do Futebol Clube do Porto são portistas.
Esta «discussão» já é velha, lembro-me de ouvir as mesmas questões e os mesmos argumentos há vários anos. Também os «historiadores locais», aquelas pessoas que se preocupam com Leça da Palmeira e escrevem sobre os seus costumes, a sua história e as suas gentes, utilizam os comummente os dois termos. A título de exemplo posso referir a obra de Jorge Bento, “Antiqualhas leceiras” e a notícia no Jornal de Matosinhos “Um postal lecense de António Mendes”.
Sem querer em grandes explicações linguísticas ou gramaticais, até porque este é apenas um mero espaço de opinião, relembro que, segundo o portal da língua portuguesa (http://www.portaldalinguaportuguesa.org/?action=gentilicos), «quando designamos alguém em função do país, da região, da província, da localidade em que nasceu ou de onde alguém ou alguma coisa procede, estamos a utilizar um gentílico».
Porém, isto de gentílicos é complicado, pois não existem regras fixas bem definidas. O próprio acordo ortográfico que entrou em vigor há poucos anos afirma que se devem utilizar as formas aportuguesadas consagradas pelo uso.
Leceiro ou Lecense?
Existem várias formas de criar gentílicos. Os mais comuns são formados por sufixos como: -ense, -aco, – ano, -ista, -eiro, -enho,… entre outros. Porém, a formação dos gentílicos nem sempre consiste na mera junção de um sufixo à base do topónimo (nome de um sítio ou local), existindo processos mais complexos, por vezes com justificações etimológicas ou históricas: por exemplo, o gentílico de Castelo Branco é albicastrense e não *castelo-branquês, *castelo-branquense ou *castelo-brancano.
Efetuando uma consulta rápida na internet, são vários os sítios e blogues onde se podem consultar listas de gentílicos. Em todos os que consultei aparece que o gentílico de leça é leceiro e de Leça da Palmeira é lecense. Já agora uma curiosidade, na lista da wikilusa, para Matosinhos, refere-se que o gentílico é matosinhense ou matosinheiro, confesso que nunca tinha escutado o termo matosinheiro.
Mas a minha grande preocupação era tentar perceber a lógica, se é que existe alguma, para leceiro ou lecense. Num dos sítios que consultei (http://www.prof2000.pt) encontrei algumas pistas. Segundo os autores e tendo por base os elementos do Prontuário Ortográfico e Guia da Língua Portuguesa, da autoria de Magnus Bergström e Neves Reis, publicado pela Editorial Notícias, 23ª ed., pp. 96 a 102, embora não se possa estabelecer «uma regra única e rígida, porque o uso e a tradição impõem os seus direitos, forçando até o emprego de vocábulos sem nenhuma analogia mórfica com a denominação das terras ou lugares», é possível criar um padrão para a criação dos gentílicos.
Assim, para topónimos com aparência de plural o gentílico forma-se do singular hipotético. Como exemplo apresentam: asturiense (de Astúrias) e asturiano; caldense (das Caldas); cascalense (de Cascais) e também cascalejo, que se corrompeu em cascarejo; vinhalense (de Vinhais). A estes exemplos eu acrescento matosinhense (de matosinhos).
Quanto aos topónimos compostos, estes formam os gentílicos geralmente do primeiro nome: Cercal do Alentejo, cercalense. E a este exemplo eu acrescento: Leça da palmeira, leceiro.
Resumindo, vou continuar a utilizar o gentílico leceiro, pois parece-me o mais correto e o que melhor soa aos meus ouvidos.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
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