Translate
É a Associação “No Meio do Nada”, responsável pelo Kastelo, que lhe vale.
Clara Soares perdeu as ajudas sociais que recebia para o filho. Pedro, de 16 anos, que não vê, não fala, não ouve e é alimentado por sonda.[su_spacer]
Há quatro anos, Clara Soares divorciou-se. Começou a trabalhar e ficou com Pedro a cargo. Um ano depois, novo IRS feito, cortaram-lhe os apoios. O jovem, de 16 anos, tem 100% de incapacidade. Não vê, não fala, não ouve e é alimentado por sonda. Em fraldas, seringas, medicação e alimentação específica, Clara gasta quase 400 euros por mês, dos 580 que ganha.[su_spacer]
“Se estivesse em casa a receber o rendimento social de inserção (RSI), tinha mais vantagens“, lamenta Clara, moradora em Vila do Conde e que desde 2016 tem batido “a tudo quanto é porta” para denunciar “a injustiça”.[su_spacer]
Vivia com o marido em Penafiel. Não trabalhava. Pedro era seguido na Apadimp (Associação de Pais e Amigos dos Diminuídos Mentais de Penafiel). O marido “ganhava bem”. Clara tinha subsídio para fraldas, transporte gratuito, isenção.[su_spacer]
Divorciou-se e, para garantir a sua independência, começou a trabalhar num restaurante no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia. Pouco depois, começaram os problemas. Os 580 euros do salário mínimo (14 meses) fazem-na ultrapassar o valor do indexante dos apoios sociais per capita que lhe dariam a isenção. Ou seja, perdeu o direito ao transporte gratuito, perdeu o apoio para fraldas, medicação ou seringas e até o abono passou do 1.º para o 2.º escalão. Tudo porque deixou de “ter direito à isenção“, ou seja, para o Estado deixou de estar em situação de “insuficiência económica“.[su_spacer]
As contas são feitas ao cêntimo e todos os meses é “uma ginástica”, só possível “graças à bondade de muitos“. Soma-se o salário, o abono e a pensão de alimentos de 125 euros e são 955 euros: 320 para a renda da casa, 400 para despesas do Pedro, viagens diárias até à Maia e já não chega para comer.[su_spacer]
Por dia, são, no mínimo, duas seringas de alimentação (direta ao estômago). Cada uma custa 1,95 euros. A comida, toda passada, tem que ser reforçada. “A médica mandou-me dar-lhe um óleo para ver se ele engorda um bocadinho. Cada garrafa de litro custa 80 euros. Não pude comprar”, contou.[su_spacer]
Cabaz de alimentos
[su_spacer]Pedro está há um ano em regime ambulatório, no Kastelo – Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos, em S. Mamede de Infesta (Matosinhos). Clara leva-o antes de ir trabalhar e vai buscá-lo ao final do dia. É a Associação no meio do nada, responsável pelo Kastelo, que lhe vale. “Dão-me um cabaz de alimentos por mana. É a minha sorte“, explica, com as lágrimas nos olhos.[su_spacer]
Clara já não tem pais e tem os irmãos emigrados, tal como o pai do Pedro. E lamenta a falta de apoios para quem é “mãe sozinha a tempo inteiro de um filho com 100% de deficiência e quer trabalhar“.
JN
Foto: José Carlos Marques/Global Imagens
Comentar