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No segundo trimestre de 2023, a economia portuguesa deverá ter registado uma variação nula em cadeia, o que corresponderia a um crescimento de 2.3% em termos homólogos.
Esta estimativa encerra uma enorme incerteza até porque o crescimento do primeiro trimestre foi inesperadamente forte. Uma eventual contração em cadeia é bastante verosímil e não será motivo de preocupação se for relativamente pequena. A zona euro deverá ter contraído 0.5% em cadeia, correspondendo a uma queda de 0.3% em termos homólogos, após a ligeira contração (-0.1%) no primeiro trimestre do ano, bem como no quarto trimestre de 2022.
Em Portugal, a inflação média do segundo trimestre foi de 4.4%, com uma variação homóloga de 3.4% em junho. A média anual da inflação é revista em baixa para 5.1% em 2023, mais precisamente num intervalo entre 4.1 e 6.1%, fruto de uma descida relativamente rápida no segundo trimestre, se bem que persistam sinais de que o fenómeno não está controlado.
A política monetária do BCE deverá contribuir para uma redução da inflação na zona euro e em Portugal, mas apenas no limiar de 2024, dado que as taxas diretoras estão ainda no intervalo entre 3.5% e 4.25%. A instabilidade dos sistemas financeiros americano e europeu tornou mais difícil antecipar a evolução da política monetária. Assim, quer a Fed, quer o BCE poderão ceder à tentação de tolerar elevadas taxas de inflação, claramente acima de 3%, durante mais tempo para evitar causar dificuldades excessivas à sustentabilidade dos balanços dos bancos que regulam.
O ponto central da estimativa de crescimento da economia portuguesa é revisto em alta para 2.4% em 2023, embora com um intervalo amplo de 1.8% a 3.0% que reflete, acima de tudo, o efeito mecânico da surpresa positiva do primeiro trimestre. O crescimento tendencial da economia continua frágil e poderá haver até correções técnicas que deem origem a contrações em cadeia. A segunda metade do ano pode afigurar-se mais adversa fruto das diversas pressões sobre a conjuntura económica: inflação elevada e taxas de juro crescentes, a que se junta agora um provável agravamento da disponibilidade de crédito fruto da maior turbulência no sistema financeiro. O consumo privado e o investimento parecem continuar com uma dinâmica frágil e contingente.
Para 2024 e 2025, os novos pontos centrais para o crescimento anual são, respetivamente, de 1.4% e 1.6%, refletindo os efeitos adversos que a pandemia poderá ter tido no crescimento potencial da economia portuguesa, bem como os custos da inflação e das taxas de juro para a atividade económica.
A economia da zona euro deverá ter um comportamento um pouco pior, com o ponto central do crescimento do PIB em 0.1% e um intervalo compreendido entre uma contração de 0.5 e um crescimento de 0.7%. Mantém-se, assim, o risco de uma recessão suave que parece agora o cenário mais provável, dados os desenvolvimentos recentes das economias alemã e francesa. As dificuldades do sistema financeiro são um risco novo que altera a visibilidade sobre a velocidade com que o BCE conseguirá domesticar a taxa de inflação sem causar danos nesse sistema.
Em Portugal, o desemprego parece dar sinais de uma ligeira subida para um ponto central de 6.7%, um valor que, sendo inferior à média histórica recente, corresponde a um desenvolvimento novo no período pós-pandemia que precisa de ser seguido com atenção.