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Há uns anos, quando começaram as obras de renovação da zona norte da marginal de Leça, entre o farol e a rotunda do Rochedo, tive a oportunidade de reunir com a vereadora responsável pelas obras e discutir alguns pontos.
Um dos aspetos que retenho dessa reunião é o facto de a vereadora ter estudado muito bem o dossiê em estudo e ter resposta pronta para tudo.
Ou melhor, para quase tudo. Quando questionada sobre o futuro das ruínas do antigo moinho da Boa-Nova, em frente ao Bar Azul, confessou que nem sabia que existiam.
Chamado o técnico responsável pela e analisadas as plantas, lá referiu que estava em estudo o futuro dessas ruínas e, em cima da mesa, estava a possibilidade de as mesmas darem lugar a uma espécie de posto de turismo, reconstruindo-se as paredes de pedra e criando-se uma estrutura em ferro e vidro transparente para a cobertura. Um pouco aquilo que se fez em muitos monumentos por esse país fora.
A ideia da reconstrução nestes moldes até nem me chocou. A nova utilização é que me levantou muitas dúvidas, pois na mesma altura estava a ser inaugurado, ou ia ser inaugurado a curto prazo, o posto de turismo em frente à praia de Leça. Faria sentido dois postos de turismo separados por menos de 2 Km? Mesmo sabendo que temos ali três obras emblemáticas de Leça – o Farol, a Casa de Chá e o Monumento de homenagem a António Nobre, tenho muitas dúvidas quanto à pertinência do mesmo.
Entretanto o tempo passou e nada se fez.
Recentemente foi levantada novamente a questão e defendeu-se a reconstrução do moinho, para evidenciar a sua existência e mesmo utilizá-lo como meio pedagógico.
Sendo eu um homem da história, à primeira vista pode parecer que concordaria de imediato com tal ideia. Mas não.
O passado não se reconstrói, preserva-se na memória.
O mais lógico é manter as paredes, mesmo como estão e arranjar uma forma de as fazer destacar na paisagem, de forma a serem visíveis aos olhos dos que por ali passam – e podem crer que diariamente são centenas e que muitos nem sonham que aquilo são ruínas de um moinho e que outros nunca repararam nelas.
Lembro-me, por exemplo, da zona histórica de Guimarães. Havia uma capela do tempo anterior à nacionalidade e, aquando das obras, toda a área foi intervencionada. Para manter a memória da capela, o arquiteto não a reconstruiu, limitou-se a desenhar no solo a sua planta, no local exato onde teria existido e com a escala que deveria ter tido. Depois, uma simples placa informativa faz o resto do trabalho.
Pelas informações dadas pelo Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos (CMM), esta minha ideia é a mesma que a atual vereação da CMM defende. Muito me apraz que assim seja. Só espero que saia do âmbito das ideias e se torne uma realidade e, se possível já, para estar concluído ao mesmo tempo das obras da Casa de Chá.
Até à próxima semana.
Saudações leceiras
Joaquim Monteiro
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